Minha melhor amiga sempre fora muito apegada a convenções sociais.
Cabelo bem escovado para ir à escola, guardanapo de pano na lancheira, beijo de boa noite antes de dormir, até se formar com destaque na faculdade e a realização de comprar o primeiro carro exercendo a profissão que escolhera.
Tudo planejado e sob absoluto controle.
E os namoros, ‘pegações’ e a ideia decasamento?
Bem, essa parte sempre fora tratada como um daqueles bad-hair days. Na falta de controle, é melhor fingir que nada está errado.
Mas quanto mais você se esforça para fingir que nem liga, mais fica estampado na sua cara que algo muito sério está te incomodando.
Tipo, pra caramba.
E talvez por esse instinto controlador manifestado desde os 12 anos (quando ela decidiu o nome dos filhos que teria), os relacionamentos sempre apresentavam um grande problema em comum:
Não dava para ter certeza de nada. Tudo poderia mudar sem aviso prévio ou explicação.
Mas de algumas coisas ela tinha a mais absoluta convicção.
Casando com o homem dos seus sonhos ou o que estivesse disponível, fosse ele gordo ou magro, mais novo ou mais velho que ela, chato ou divertido, desapegado ou dinheirista, ela sabia que ele preferiria a morte do que pedir informação e admitir que estava perdido. Cristóvão Colombo, por exemplo, morreu acreditando que estava na Índia.
Ela sabia também que uma calcinha bege poderia ser a diferença entre uma vida solitária e um casamento com fogos de artifício e bem casados. No entanto, sabia que, por mais histérica que fosse, nenhuma Victoria Secret o chamaria para o "dever" (se é que você me entende) mais alto que um Call of Duty.
Minha melhor amiga também tinha certeza de que nem mesmo Dalai Lama seria equiparável a ela na virtude da paciência. Ele estava bem de boa meditando no canto dele, enquanto ela tinha que aguentar a musicalidade de um futebol de domingo à tarde na televisão e no rádio.
Além disso, ela sabia, do fundo do coração, que ir para um motel com um Ricardão (ainda se diz isso?) não seria um crime maior do que chamar e pagar um encanador, eletricista ou marceneiro para fazer qualquer ajuste na casa.
E nunca um jantar cuidadosamente preparado e servido à luz de velas seria tão romântico para ele quanto acompanhá-lo em uma cerveja.
Sem falar que nenhuma Channel ou Louis Vitton compensaria o investimento, uma vez que qualquer blusa branca justa e um jeans produziriam - ou superariam - o mesmo efeito.
Ela também saberia respeitar o espaço dele. Poderia decidir exatamente o canal que quisesse assistir. Não importa. O controle fica na mão dele.
Mas, apesar dos pesares, nenhum peso seria maior que o inexorável comprometimento.
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