Bórgia é o sobrenome de uma
família espanhola que se notabilizou em Itália na época do Renascimento. Os
seus elementos mais ilustres ficaram conhecidos como a primeira família
criminosa da história. Entre a sua linhagem encontram-se cardeais, bispos,
duques e papas, entre os quais merecem destaque quatro figuras: os papas
Calisto III e Alexandre VI e os príncipes César e Lucrécia.
A infâmia dos Bórgia era ainda um
esboço, quando o nepotismo de Calisto III ajudou a criar o terrível
temperamento que veio a ser encarnado pelas gerações posteriores. Na corte que
Calisto III instituiu em seu redor viria a sobressair Rodrigo, o seu sobrinho.
Rodrigo ocupou o trono pontifício
de 1492 a 1503, adquirindo como nome papal o de Alexandre VI. E foi aqui que a
imagem da família Bórgia ficou transfigurada com os actos bárbaros executados
por este chefe da Igreja Católica. Alexandre VI foi homem de muitas mulheres.
Do envolvimento com Vanozza de Catanei nasceram quatro crianças, entre as quais
se destacam César, dado à luz em 1475, e Lucrécia, nascida em 1480.
Precisamente com Lucrécia foi acusado do mais terrível de todos os crimes: o
incesto (nunca provado, mas sempre falado).
Lucrécia Bórgia foi
instrumentalizada pelos familiares mais próximos, tendo-se casado por várias
vezes para criar e satisfazer as conveniências políticas de seu pai. Não se
julgue, contudo, que Lucrécia foi apenas uma vítima inocente, pois a sua forma
de estar coadunava-se com o período amoral em que viveu.
César não degenerou e a sua
personalidade coincidiu na perfeição com a do progenitor, inclusive na relação
de incesto com Lucrécia. Ao longo da sua vida, fomentou e manteve conflitos
políticos com famílias rivais, como os Varani, os Orsini, os Vitelli e os
Sforza.
Alexandre VI faleceu em 1503,
vitimado pelo veneno que ele próprio tinha destinado a um inimigo. Já César
faleceu em 1507, em Espanha, combatendo sozinho uma vintena de adversários.
Lucrécia viu o final dos seus dias, em 1519, quando dava à luz o décimo
primeiro filho.
Re: Os Bórgia
Os anos do papado sob Alexandre
VI foram essencialmente marcados pelos múltiplos assassinatos que envolveram
elementos dos Bórgia. Em Julho de 1497, César terá morto o seu irmão, Giovanni,
cujo cadáver apareceu nas águas no Tibre depois de ambos terem jantado em casa
da mãe, Vanozza Cattanei. O próprio pai decidiu-se a esclarecer o assunto e
depressa chegou a uma conclusão - o assassino era o próprio César, movido pela
inveja. Para abafar o assunto, todas as investigações foram canceladas. Os
Bórgia foram pródigos em multiplicar os escândalos. Logo depois da morte de
Giovanni, a filha favorita do papa, Lucrécia, apareceu grávida, não obstante
estar num convento. O seu presumível amante, Pedro Calderón, apareceu morto no
Tibre. César, desta feita, não teve dúvidas em espalhar aos quatro ventos que
fora ele o autor do assassinato, para vingar a honra da família. Com a morte de
Giovanni, entretanto, César ganhou grande importância em Roma. Desistiu da
carreira eclesiástica e passou a ser duque de Gandia, o que lhe conferia amplos
meios, tornando-se um dos homens mais ricos de Itália, ao mesmo tempo que,
juntamente com o pai, continuava a levar a cabo golpes maquiavélicos, tendo
assassinado o próprio cunhado, Afonso de Biscegli, que entretanto casara com
Lucrécia e que foi enforcado no próprio quarto quando se encontrava a
convalescer de uma tentativa frustrada de atentado. Lucrécia passou para a
História como sendo culpada da morte do marido, mas isso dever-se-á à fantasia
de Victor Hugo e não corresponderá à realidade.
Re: Os Bórgia
por Saibot em 18th Agosto 2011, 18:32
Os crimes levados a cabo por
César foram um rosário sem fim. Um dos mais conhecidos foi levado a cabo contra
Filofila, um poeta-cantor que era protegido pelos Orsini (que odiavam o papa) e
que espalhava aos quatro ventos por Roma a vida dissoluta que levavam os Bórgia
- Alexandre VI teria vinte filhos e César e Lucrécia cometeriam incesto. Um dia
tudo acabou - os restos de Filofila, esquartejados, foram colocados à porta do
castelo dos Orsini. A verdade, porém, é que Lucrécia estava cansada das
intrigas e crimes cometidos pelo pai e pelo irmão. Em 1501, casou-se com Afonso
d'Este, duque de Ferrara, e nunca mais viu a família.
Re: Os Bórgia
Em 1503, numa noite de Agosto, César e Alexandre VI organizaram um
banquete em honra do cardeal Adriano Castelense, um dos homens mais ricos de
Roma. Por ordem do papa, foram servidos dois caldeirões de sopa de nabos: um
dos caldeirões, com um veneno letal, destinava-se ao cardeal. Porém, o plano
falhou. Por um engano da criadagem, o papa e o filho acabaram por se servir da
sopa envenenada, enquanto o cardeal comeu a sopa sã. César e o pai adoeceram
gravemente, mas apenas o papa acabou por morrer. Sabe-se que Alexandre VI,
então com 72 anos, estava já gravemente doente aquando desse jantar. Ao que
parece tinha sido acometido de um ataque de malária, então comum em Roma,
devido à existência de áreas pantanosas. Existe ainda outra versão - a de que
terá sido o próprio cardeal a envenenar pai e filho, mas desconhecem-se, em
rigor, os pormenores exatos que conduziram à morte do papa. Mais robusto, César
escapou à morte, conseguindo resistir aos efeitos do veneno. Contudo,
gravemente doente, não pôde influir na eleição do novo papa.
Re: Os Bórgia
por Saibot em 18th Agosto 2011, 19:01
Com a eleição do papa Júlio II,
um velho inimigo dos Bórgia, César viu os seus planos totalmente arruinados.
Acabou por se casar com a princesa Charlotte de França, ficou com o título de
duque de Valentinois e entrou para a história como duque Valentino. Foi
imortalizado por Maquiavel na sua obra-prima, O Príncipe, onde César Bórgia é
considerado como o exemplo de bom governante e hábil político. Acabou por ser
morto em 1507, lutando pelos seus ideais absolutistas, numa emboscada em Espanha.
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